Colegas, encontrei na internet um texto que foi disponibilizado por outra professora para outra turma da unip vergueiro em um blog: http://futurosdoutoresunip.blogspot.com.br/
Esse texto é de outra professora (Solange Varella), mas esta alinhado com o conteúdo online e conteúdo programático da disciplina Ciências Sociais. Pode ser que ajude nos estudos para a NP1.
- Origem da sociedade
• O homem: animal político. O ser humano é um ser social. Desde o nascimento, vive normalmente em sociedade: família, escola, clube, igreja, cidade, Estado (“país”), sociedade global. Embora a vida em sociedade traga restrições à liberdade, o ser humano isolado é uma exceção. O que leva o homem a viver em sociedade?
Por que vivemos em sociedade? Determinar o motivo pelo qual o ser humano vive em sociedade é importante para se determinar a posição do indivíduo na sociedade: o ser humano foi feito para a sociedade ou a sociedade foi feita para o ser humano? O que é mais importante, a coletividade ou o indivíduo?
- Teorias sobre a origem da sociedade:
- a) sociedade natural – o ser humano é dotado de um instinto de sociabilidade que o leva naturalmente a viver em sociedade – o homem é um animal político (ênfase no todo, no coletivo: organicismo): Aristóteles, Cícero, S. Tomás de Aquino, Ranelletti.
“A sociedade que se formou da reunião de várias aldeias constitui a Cidade, que tem a faculdade de se bastar a si mesma, sendo organizada não apenas para conservar a existência, mas também para buscar o bem-estar. Esta sociedade, portanto, também está nos desígnios da natureza (…) É, portanto, evidente que toda Cidade está na natureza e que o homem é naturalmente feito para a sociedade política” (Aristóteles – 384 a.C. – 322 a.C.)
b) sociedade como ato racional – as teorias contratualistasnegam o impulso associativo natural; a sociedade é uma criação humana, fruto de uma decisão racional (ênfase no indivíduo – mecanicismo); partindo do estado de natureza, o homem, baseado na razão e por vontade própria, firma um contrato social, estabelecendo um governo e regras para a vida em sociedade.
- Origem do Estado
A origem da palavra ESTADO vem do latim Status. “Status Rei Publicae” (Situação da coisa pública).
O primeiro emprego da palavra Estado, como nós o fazemos modernamente, foi feito por Maquiavel em sua obra “O Príncipe”, em Florença, no ano de 1513. Maquiavel é tido como o fundador da Ciência Política, pois separou pela primeira vez a moral da política.
Existem três teorias quanto à época do aparecimento do Estado.
1ª Teoria
- Segundo esta teoria o Estado surgiu na mesma época em que surgiu a sociedade. Eduard Meyer, principal teórico dessa corrente, equiparou estrutura de poder a Estado. Para ele, o Estado surgiu na mesma época em que surgiu a sociedade, pois toda a sociedade possui estrutura de poder.
- Essa teoria para muitos estudiosos não é correta, pois o Estado foi confundido com estrutura de poder.
2ª Teoria
- As sociedades existiram em determinado momento sem a presença do Estado e algumas delas evoluíram e criaram Estados.
- Essa é a corrente mais aceita, tendo um grande número de adeptos. A época do aparecimento do Estado depende de cada caso, que deve ser estudado separadamente.
– Em geral, quando surgem as primeiras civilizações surgem os primeiros Estados.
3ª Teoria
- O Estado é um fenômeno recente, moderno; não é um conceito geral válido para todos os tempos, mas um conceito histórico concreto, que surge quando nasce a ideia e a prática da soberania, o que só ocorreu a partir do século XVII
- Carl Smith acreditava que até o séc. XVII o que existia era poder, e que a partir daí, os Estados começaram a surgir, porque surge a prática da soberania. Portanto, o Estado é um fenômeno recente.
Causas do Surgimento do Estado
- Formação Originária: é aquela que deu origem ao primeiro Estado que uma determinada sociedade conheceu.
As causas de formação originária podem ser contratualista (quando o Estado surge de um contrato social) e não contratualista (quando o Estado surge por outros motivos, que não o contrato social).
Formação Originária Não-Contratualista
Existem 3 casos dentro da formação originária não-contratualista:
1º caso- Origem familial, patriarcal ou matriarcal
Essas teorias sustentam o núcleo social fundamental na família. Segundo elas, cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado. (Principal teórico: Robert Filmer (1589-1653)
A moderna antropologia tende a desmentir tal teoria, haja vista o fato de que as comunidades de origem familial, matriarcal ou patriarcal raramente criavam forma estatal, tendendo a permanecer em tribos, hordas ou bandos, havendo algumas exceções importantes. O Estado hebreu (antigo) tinha formação de causa familial ou patriarcal: Abraão era o patriarca do Estado (primitivo) de Israel.
2º caso – Origem da força, violência ou conquista.
Essas teorias sustentavam que a superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco, nascendo dessa junção entre dominantes e dominados o Estado. Um dos principais teóricos é o francês Bertrand de Jouvenel.
Exemplo: Pérsia, Estado formado por grandes conquistadores como Ciro, Xerxes, Artaxerxes e Dário.
Outros Estados conquistadores: Babilônia, Suméria e Assíria, Cidades-Estado gregas, Roma (Império Romano), Macedônia, etc.
Um povo é dominado por outro através da conquista e da violência. Num primeiro momento o povo conquistador explora ao máximo o conquistado para recuperar as perdas decorrentes da conquista. Porém, não é possível dominar sempre pela força e a violência; é preciso conseguir a adesão do povo conquistado, que lentamente é incorporado ao novo conquistador, através da miscigenação racial, cultural, pela imposição da língua do conquistador. Para exercer seu domínio são criados os quartéis, os tribunais, as leis para o controle, os palácios, o governo local e, futuramente, os órgãos assistenciais. A finalidade do Estado será, então, garantir a ordem e a paz social e, no futuro, o bem comum.
3º caso – Origens econômicas e patrimoniais
O Estado teria sido formado para que se aproveitassem os benefícios da divisão do trabalho, da produtividade e da atividade econômica em geral, caracterizando-se assim a origem do Estado por motivos econômicos.
O principal teórico é o filósofo grego Platão (professor de Aristóteles), sua principal obra: A República. Segundo ele, quanto mais organizado o Estado, mais eficiente a economia.
Patrimonial: Visão de Marx e Engels
Engels sustenta a teoria de que a origem do Estado se dá quando surge uma instituição que assegure as novas riquezas resultantes da acumulação que a propriedade privada propiciou, uma instituição que perpetuasse a nascente divisão da sociedade em classes e assegurasse o direito da classe possuidora explorar a possuída.
Formação Originária Contratualista
Os contratualistas, por caminhos diferentes, negam que o homem seja por natureza um animal social e político, afirmando que para que seja possível a vida em sociedade é preciso celebrar um amplo pacto social, um acordo de vontades, que ficou denominado “Contrato Social”.
É importante salientar que todos os teóricos contratualistas viveram no período de ascensão da burguesia e, nesta classe, a ideia e a prática dos contratos é muito frequente, o que teria influenciado todo o pensamento político dessa época.
Para esses teóricos o Estado surge por um amplo acordo de vontades, um amplo pacto social, que retire o homem do estado de natureza (homem primitivo) e o conduza a vida civil, à maneira pela qual cada um pensa o contrato social é diferente:
- a) Thomas Hobbes(1588-1679): a natureza humana não muda, é sempre a mesma (“conhece-te a ti mesmo”). O homem é mau, invejoso, ambicioso, cruel e não sente prazer na companhia do outro. O estado de natureza é uma “guerra de todos contra todos”, o “homem é o lobo do homem”. Sem lei nem autoridade, todos têm direito a tudo. A vida é “solitária, pobre e repulsiva, animalesca e breve”. Para fugir desse estado, reúnem-se em sociedade e firmam o contrato social, estabelecendo uma autoridade soberana com poder ilimitado e incontestável para impor a ordem (Estado – Leviatã). O pacto é de submissão e não pode ser quebrado. A obra de Hobbes serviu como justificação do absolutismo. Obra: O Leviatã.
“Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou, em resumo, fazer aos outros o que queremos que nos façam) por si mesmas, na ausência do temor de algum poder capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. E os pactos sem a espada não passam de palavras (…) À multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. É esta a geração daquele grande Leviatã, ou melhor (para falar em termos mais reverentes), daquele Deus Mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus Imortal, nossa paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por cada indivíduo no Estado, é-lhe conferido o uso de tamanho poder e força que o terror assim inspirado o torna capaz de conformar as vontades de todos eles, no sentido da paz em seu próprio país, e da ajuda mútua contra os inimigos estrangeiros”(Hobbes)
b) John Locke(1632-1704): inspirador da “Revolução Gloriosa”, que estabeleceu a monarquia moderada na Inglaterra (1688-89). Para Locke, o estado de natureza é pacífico, com os homens gozando dos direitos naturais à vida, à liberdade e aos bens. O contrato social serve para a proteção desses direitos e o consentimento é a base da autoridade. O Estado, formado com base no contrato, tem poder limitado e baixo grau de intervenção na vida social (individualismo liberal). Caso o governo não cumpra o dever de proteger os direitos naturais, o povo possui direito à rebelião. Influiu na independência dos EUA. Obra básica: Segundo tratado sobre o governo.
“O poder político é o que cada homem possuía no estado de natureza e cedeu às mãos da sociedade e dessa maneira aos governantes, que a sociedade instalou sobre si mesma, com o encargo expresso ou tácito de que seja empregado para o bem e para a preservação de sua propriedade (…) Esse poder tem origem somente no pacto, acordo e assentimento mútuo dos que compõem a comunidade (…) Digo que empregar a força sobre o povo, sem autoridade e contrariamente ao encargo contratado, a quem assim procede, constitui estado de guerra com o povo, que tem o direito de restabelecer o poder legislativo ao exercício de seus poderes”(Locke)
- c) Barão de Montesquieu(1689-1755). Filósofo francês que elaborou a teoria da separação de poderes como forma de garantir a liberdade. Para ele, o estado de natureza era pacífico. Os seres humanos se aproximam pelo medo e pela atração mútua. O estado de guerra começa depois do surgimento da sociedade, surgindo a necessidade do estabelecimento, por acordo, das leis e do Estado, que devem ser organizados de forma apropriada para cada sociedade, pois as leis são as “relações necessárias que derivam da natureza das coisas”. Influência no constitucionalismo. Obra: O espírito das leis.
“O homem, no estado natural (…) pensaria na conservação do seu ser (…) Semelhante não sentiria a princípio senão a sua fraqueza; sua timidez seria extrema (…) Nesse estado, cada qual sente-se inferior; mal percebe a igualdade. Nem procurariam pois atacar-se, e a paz seria a primeira lei natural (…) Mas as demonstrações de um temor recíproco fá-los-iam logo aproximar-se. Seriam levados talvez pelo prazer que sente um animal à aproximação de outro da sua espécie (…) Os homens, tão logo se acham em sociedade, perdem o sentimento de fraqueza; a igualdade, que existia entre eles, cessa; e o estado de guerra começa (…) Esses dois tipos de estado de guerra [de nação contra nação e indivíduo contra indivíduo] fazem estabelecer as leis entre os homens (…) O governo mais conforme à natureza, deve admitir-se, é aquele cuja disposição particular melhor corresponde à disposição do povo para o qual é estabelecido” (Montesquieu)
d) Jean Jacques Rousseau (1712-1778) – Segundo Rousseau , no estado de natureza o homem era por natureza bom, livre e igual a seus semelhantes. A humanidade é nômade, os homens vivem dispersos pelos campos. Num dado momento, um homem cerca um pedaço de terra e diz: “isso é meu”. Deixa de ser nômade passando a ser sedentário. Então Rousseau diz: “Começou a tragédia humana!” porque a sociedade corrompe o homem. Essa corrupção levaria a sociedade ao caos e à desordem. Para terminar com o caos existente fez-se o Contrato Social. Obra: Do Contrato Social
“O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer ‘isto é meu’ e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: ‘Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém.'( Rousseau)
- Formação Derivada: é aquela em que o Estado surge de outros preexistentes, um Estado que surge de outro Estado. As causas da formação derivada se dividem em dois processos: típicos e atípicos.
– Processos típicos: são aqueles que se repetem na história, ou seja, que ocorrem várias vezes. Eles se dividem em dois grupos: união e fracionamento.
- União: ocorre quando dois ou mais Estados se unem formando um ovo Estado.
Exemplos:
EUA: ficaram independentes da Inglaterra em 1776, quando as 13 colônias se tornaram Estados independentes. Depois de 11 anos elas se unem e passam a formar os Estados Unidos da América, a partir de 1787, quando é proclamada a constituição.
Alemanha: unificada em 1870 na guerra franco-prussiana por Otto Von Bismark, resultante da fusão de vários reinos e ducados.
Itália: surgiu também em 1870, resultante da sua unificação feita por Garibaldi e pelo Reino de Savóia, representado pelo Conde de Cavour.
Ex-URSS: formada no período de 1917 a 1945, quando 15 repúblicas se uniram. Atualmente, 11 dessas repúblicas integram a Comunidade de estados Independentes.
Ex-Iugoslávia: 6 repúblicas compunham a ex-Iugoslávia, que depois tornou-se uma federação comunista em 1948.
- Fracionamento: ocorre quando um Estado se divide, dando origem a novos Estados
O fracionamento pode ser por:
A – Independência: quando um Estado surge a partir do final de um império colonial.
Exemplos:
América
– toda a América surgiu por independência: o Brasil, Peru, México, Paraguai, Equador, Canadá, etc.
África
– África (Inglesa) – quebra do império colonial. Quênia, Zâmbia, Nigéria, Tanzânia, etc.
– África Ocidental Francesa: Argélia, Tunísia, Senegal, etc.
– África Portuguesa: Cabo Verde, Moçambique, Angola, Guiné Bissau
– África Holandesa – África do Sul
– África Italiana: Etiópia, Líbia, Somália, Eritréia
– África Belga: Zaire
Ásia e Oceania:
Espanha – Filipinas
Holanda – Indonésia
Inglaterra – Austrália, Nova Zelândia
Na independência perde-se o império colonial, mas o Estado “matriz” continua intacto em termos territoriais. Quando o Brasil se tornou independente de Portugal, nada ocorreu com o território Português na Europa.
B- Separatismo: ocorre quando um Estado se divide e surgem novos Estados da destruição do anterior. Ou o Estado desaparece ou perde parte de seu território.
Exemplos: Rússia, Ucrânia, Letônia, Estônia, Lituânia, Armênia, Moldavia, Casaquistão, Usbequistão, Turquemenistão, Geórgia, Bielo Rússia, da destruição da União Soviética.
– República Tcheca e República Eslovaca.
Movimentos separatistas: quando há um movimento para separar uma determinada região de um Estado.
Exemplos:
1) Canadá – movimento do Quebec
– a parte francesa quer se separar da parte inglesa. É um movimento forte, mas pacífico, via eleitoral.
2) Irlanda do Norte – IRA (Exército Republicano Irlandês)
– quer separar a Irlanda do Norte do Reino Unido. É um movimento terrorista e forte.
3) Espanha – ETA (Pátria Basca e Liberdade)
- País Basco, região nordeste da Espanha, fronteira com a França. É um movimento terrorista, como o IRA.
4) Chechênia – é uma parte da federação Russa, localizada na região Cáucaso. Movimento guerrilheiro e terrorista.
5) OLP – Palestina. Foi feito de um acordo onde parte do território da Palestina já está consolidado como Estado. É considerada entre o separatismo e o movimento separatista.
6) Liga Lombardia, Aliança Norte na Itália. Na região norte da Itália, nas regiões da Lombardia, Vêneto, Piemonte, Friuli Venezia Giulia e Ligúria existe um forte movimento separatista, pacífico, que pretende a separação dessas regiões da Itália ou o federalismo. Atualmente está inclinada para o federalismo.
7) Movimento separatista curdo, povo que vive nos territórios da Turquia e Iraque e que pretende a criação do Estado do Curdistão nessa região. Movimento terrorista e revolucionário.
8) Kosovo – Movimento guerrilheiro que pretendia separar essa província de maioria albanesa da Iugoslávia, em razão da tirania Sérvia. Depois da guerra de 1999 e a invasão das tropas Europeias, esse movimento desaparece.
– Processos atípicos: são aqueles cuja causa ocorreu uma única vez na história, portanto não se repetem.
São quatro os casos de processos atípicos:
1) Ex-RDA (República Democrática Alemã) e RFA (República Federal da Alemanha), de 1948 a 1989.
- Considerado atípico porque foi contra os interesses da nação alemã
- Muro de Berlim / Berlim dividida entre ex-URSS e EUA.
2) Israel – 1948
- Foi o único Estado criado pela ONU. O brasileiro Oswaldo Aranha presidiu a sessão de criação deste Estado, e como houve empate, deu seu voto de Minerva a favor da criação do Estado de Israel.
3)Vaticano – 1929
- Sete anos após as negociações entre a Igreja Católica e o Estado Italiano, surge o Estado Vaticano, com o Tratado de Latrão. Foi uma concordata entre o Estado Italiano e a Igreja, assinada em 1929 pelo Papa Pio XI e Mussolini. O Estado do Vaticano é o único Estado que fica dentro de uma cidade, Roma.
4) Coréia do Norte e do Sul – 1945
- Contra vontade da Coréia e por militarização de fora.
- Durante a 2ª Guerra, a Coréia ficou militarizada pelo Japão. Terminada a guerra, os EUA protegeram a parte sul, e a ex-URSS a parte norte, dividindo a Coréia em dois Estados.
Evolução Histórica do Estado
1) Estado do Oriente, Antigo ou Teocrático.
Os Estados Teocráticos surgiram no Oriente Médio. O aparecimento desses Estados varia de lugar para lugar, oscilando entre 5000a.C. e 2500a.C.
Ao mesmo tempo em que surge a civilização surge o Estado Teocrático. Há o aparecimento dos primeiros documentos escritos.
Teocracia significa o governo de Deus. Estados Teocráticos são aqueles em que o chefe religioso e o chefe de Estado são a mesma pessoa, o governante e o sacerdote se unem, onde não há separação entre política e religião, sendo que a religião domina toda a vida social. O governante é um enviado de Deus ou é um Deus (como ocorria com os faraós do Egito), sendo que este e o sacerdote são a mesma pessoa.
Exemplos: Pérsia, Egito, Comeria e Assíria, Babilônia, Fenícia, Estado Hebreu (3700a.C)
Características dos Estados Teocráticos:
- Sistema político predominantemente monárquico (reis, imperadores, faraós).
- Economia era basicamente agrícola e comercial)
- Estado com forte poder centralizado
2) Estado Grego ou Cidades-Estado
Cidades-Estado são aquelas em que todo Estado está inserido dentro dos limites de uma cidade.
Houve cidades-Estado na Grécia e no sul da Itália (Magna Grécia). Surgiram próximo ao ano 1000a.C., e tiveram seu apogeu e fim por volta de 370 a.C.
Essas cidades gregas chamavam-se polis.
Principais pólis na Grécia: Atenas, Esparta, Corinto, Tebas, Mileto, Samos, Éfeso.
Características das Cidades-Estado:
- Autonomia ou independência de uma cidade com relação às outras. Cada cidade é um Estado, e estes são autônomos, independentes uns dos outros, e portanto há a descentralização política.
- Nas cidades gregas o Estado é laico, ou seja, não é teocrático, não possui religião oficial. Os gregos, pela primeira vez na história, separam política da religião.
- A cidade-estado grega Atenas é conhecida como berço da razão.
- A Grécia é o primeiro lugar na história da humanidade onde a explicação dos fenômenos não é feita através de Deus, mas é buscada na própria natureza do fenômeno. É a explicação dos fenômenos por eles mesmos, através da racionalidade (razão).
- Sistema de governo conhecido como democracia, que significa “governo do povo”.
- Democracia ateniense – democracia direta, ou seja, os cidadãos decidem diretamente na praça pública, nas assembleias os destinos da vida política ateniense.
- Os cidadãos que não participavam da vida pública eram mal vistos pela sociedade.
- Em Atenas, participavam os cidadãos, homens maiores de 30 anos e nascidos em Atenas. As mulheres, os menores, os estrangeiros e escravos não participavam.
- As cidades-estado, enquanto Estados autônomos desaparecem quando foram invadidas pelos macedônios.
3) Estado-Império ou Estado Romano
Foi um dos maiores Estados em dimensão territorial que a história da humanidade já conheceu.
A época do surgimento da cidade de Roma (753 a.C, segundo a tradição) não é a mesma do surgimento do Império. A palavra latim para designar cidade é civitas. A palavra “civilização” deriva de civitas. A civilização começa quando surgem as cidades.
A primeira forma de governo em Roma foi a realeza (monarquia). Esta realeza, de origem romana, durou até 612 a.C. quando Roma foi invadida pelos etruscos. Foram sete os reis de Roma. O último rei, que era etrusco, foi Tarquínio, o Soberbo. Descontentes com o absolutismo dos reis etruscos, os aristocratas proclamaram a República em 509 a.C. O pretexto foi o ultraje feito por Sexto, filho do rei Tarquínio, a Lucrécia, esposa de Colatino.
Antes da invasão dos etruscos Roma era uma comunidade, depois desta invasão passou a ser uma sociedade. A república surge com a saída dos etruscos. Na República, o Senado Romano (Câmara de Idosos) passa a ser o órgão dirigente em substituição ao rei.
Durante o período republicano, Roma transformou-se de simples cidade-estado em um grande império.
Características do Senado Romano
- era vitalício, o senador só deixava o cargo quando morria.
- os senadores eram escolhidos entre os nobres ou patrícios.
- na República Romana, o senado era o que chamamos de Poder Executivo, além de Legislativo.
A Ditadura Romana
Quando havia um abalo da ordem pública nos limites da dominação romana ou na cidade de Roma, a lei estabelecia que se nomeasse um cônsul ou general com poderes extraordinários, conferidos pela ditadura, para sufocar a rebelião. Terminada esta, acabava os poderes de ditador e se voltava ao status quo anterior. A ditadura era um instituto jurídico que correspondia ao estado de sítio na nossa constituição.
A Política Romana na época republicana
Concórdia Romana: em uma determinada sociedade existem pontos de vista sobre os quais não se pode discordar, ou seja, todos têm que estar de acordo, podendo no restante haver discordância.
Pontos essenciais com os quais não se podia discordar em Roma:
– todos estavam de acordo que o Senado era o órgão máximo de governo da República e a “Liberta” – a liberdade dos romanos – que significa que cada romano deveria ser governado por leis e não por homens (como no caso da realeza).
Por várias razões, a concórdia vai desaparecer quando aumenta o poderio militar e político de Roma. Para solucionar a crise interna na cidade, será criado o Tribunato da Plebe, uma representação dos plebeus junto ao Senado.
O Tribuno da Plebe não poderia propor normas ao Senado, mas poderia vetar qualquer norma por ele elaborada, o que lhe conferia um alto poder.
A crise da República Romana teve início quando o senado romano passou a ter seu poder desafiado pelo poderio militar de alguns generais.
Com o desaparecimento da Concórdia cresce as lutas sociais e as guerras civis. No século I a.C., o Senado vai se julgar incapaz de controlar as crises políticas e sociais e ocorre uma grande disputa entre generais e políticos que lutavam contra os rebeles, guerras civis e revoltas populares; movimentos separatistas e insurreições de escravos. Podemos salientar também, que a estrutura política da República era inadequada ao Império.
Da luta de três deles, Caio Júlio César, Pompeu e Crasso vai surgir a primeira ditadura vitalícia que Roma conheceu, a de Júlio César.
Com a morte de Júlio César, assassinado por uma conspiração, o Senado se reúne e convoca três personalidades políticas para governar, Otávio, Marco Antonio e Lépido.
Marco Antonio vai para o Egito, Lépido é morto em batalha e Otávio fica sozinho para assumir o poder e é intitulado Augusto. Esta época, séc. I a.C., ano 27 a.C., foi o apogeu de Roma e o começo do Estado-Império.
Os 12 primeiros Césares, cujas biografias são narradas por Suetônio:
1º Caio Júlio César 7º Galba
2º Augusto 8º Otão
3º Tibério 9º Vitélio
4º Calígula 10º Vespasiano
5º Cláudio 11º Tito
6º Nero 12º Domiciano
Principais características do Estado-Império:
– Domínio de grande extensão territorial e predominância da vida urbana sobre a rural (a cidade de Roma, em seu apogeu, contava com 1,5 milhão de habitantes.) e grande atividade comercial.
– O Império Romano teve a maior extensão territorial que a história da humanidade conheceu, Império significa domínio, neste caso, sobre grande extensão territorial.
– Centralização política. Embora o Império fosse dividido por razões administrativas, prevalecia sempre a vontade do imperador nas questões que ele pudesse resolver.
– A maior parte da população vivia na cidade, o que conferia uma grande centralização de poder na pessoa do imperador, já que vivia em Roma. A partir do Império é que o Senado assume a função que tem hoje, que é somente legislar.
– Os romanos eram admiradores da lei e da ordem, daí a superioridade militar que tiveram e a grande contribuição que deram à humanidade no campo jurídico.
Direito civil: IUS CIVILE para quem era cidadão romano.
IUS GENTIUM para quem não era cidadão romano, estrangeiro.
Havia uma força (exército romano) que fazia com que se cumprissem as leis. Roma possuía grande atividade militar.
Principais causas da decadência ou desaparecimento do Estado-Império:
– Dificuldades de conceber a ideia de Nação, dificuldade de incorporar os povos dominados, que eram tratados como estrangeiros, apesar da tentativa feita pelo imperador Caracala. Através do Edito de Caracala, de 212 d.C., foi concedida naturalização a todos os povos do Império, medida tardia que não resolveu o problema da desintegração do Império.
– Considerando o crescente número de cristãos, o imperador Constantino adotou medidas que assegurassem a liberdade religiosa no Império. Com o Edito de Milão, de 313 d.C., o Cristianismo (perseguido durante muito tempo), passou a poder expressar-se livremente, o que fez com que a noção de superioridade dos romanos viesse a decair. Sob Teodósio I, o Grande, o Cristianismo tornou-se religião oficial do Império.
– Grande número de estrangeiros ingressou no exército, não possuíam a disciplina dos romanos, quando chegaram aos postos de comando, o exército começou a conhecer derrotas. Essas derrotas acabaram por influenciar a economia, pois os escravos eram feitos prisioneiros de guerra e as derrotas militares significavam menor número de escravos e, conseqüentemente, menor produção.
– A medida que o exército romano foi enfraquecendo, os germânicos (bárbaros) foram penetrando o território romano, até que em 476 d.C. um bárbaro chamado Odoacro entrou em Roma e destituiu o último imperador romano, Rômulo Augusto, tomando o poder para si.
4) Estado Medieval ou Feudal
O nome “Estado Medieval” vem da chamada Idade Média, que durou do século V ao XV. Esta se divide em Alta Idade Média (período do século V ao X) e Baixa Idade Média (período do século XI ao XV). Do ponto de vista cronológico costuma-se indicar o começo da Idade Média em 476 d.C. (queda de Roma), estendendo-se até 1453 (queda de Constantinopla).
Principais características do Estado Medieval:
Íntima relação entre propriedade da terra e poder político, o que levou a um período de descentralização política. Predominância da vida rural sobre a vida urbana, baseada na unidade agrícola conhecida como feudo e a presença de pequenas vilas chamadas burgos.
- a economia era agrícola
- o feudo era a unidade agrícola da época
- os senhores feudais eram de origem germânica e cada um deles tinha seu próprio exército
- Germanização do continente europeu, presença do estilo germânico durante este período.
- Grande influência da Igreja Católica. A Igreja é a maior força espiritual desse período.
Principais causas do desaparecimento do Estado Medieval:
– Movimento das Cruzadas ou Guerra Santa, que buscavam retomar a cidade de Jerusalém do domínio árabe.
– Reativação do comércio e das rotas comerciais.
– Aumento de intensidade da vida urbana em razão do comércio, crescimento das cidades e tendência à centralização do poder.
5) Estado Moderno
O Estado Absolutista
Como primeiro formato de Estado moderno deve-se destacar o absolutismo, surgido em um período de confronto entre nobreza e clero – de um lado – e burguesia – de outro .
Durante a Idade Média, o poder político era controlado pelos diversos senhores a feudais, que geralmente se submeteram ao imperador do Sacro Império e do Papa. Não haviam estados nacionais centralizados. A princípio a burguesia tentou estabelecer acordos políticos com os monarcas, que aproveitaram a disputa entre as camadas sociais para aumentar seu poder político.
As crises no final do período provocaram a dissolução do sistema feudal e prepararam o caminho para a implantação do capitalismo.
A terra deixou de ser a única fonte de riqueza. O comércio se expandia trazendo grandes transformações econômicas e sociais. Alguns servos acumulavam recursos econômicos e libertavam-se dos senhores feudais e migravam para as cidades. Em algumas regiões afastadas senhores feudais ainda exploravam seus servos A consequência desses maltrato foi a revoltas dos camponeses. A expansão do comércio contribuiu para desorganização do sistema feudal, e a burguesia , que era a classe ligada ao comercio,tornou-se cada vez mais rica e poderosa e consciente que a sociedade precisa de uma nova organização política.
Para a classe da burguesia continuasse progredindo, necessitava de um governos estáveis e de uma sociedade ordeira.
- Acabar com as constantes guerras e intermináveis guerras entre os membros da antiga nobreza feudal. Eram guerras fúteis que prejudicavam muito o comércio.
- Diminuir a quantidade de impostos sobre as mercadorias cobrados pelos vários senhores feudais.
- Reduzir o grande número de moedas regionais, que atrapalhava os negócios.
O absolutismo teve em Thomas Hobbes (1588-1679) seu representante, cuja teoria procurava as origens do Estado e sua finalidade. Hobbes defendia um Estado soberano com representação máxima de uma sociedade civilizada e racional. A explicação era simples: Em estado natural os homens viveriam em igualdade, segundo seus instintos. O egoísmo, a ambição e a crueldade, próprios de cada um, gerariam uma luta sem fim e tornariam difícil a vida em sociedade, levando-os a destruição. Somente o Estado – poder acima das individualidades – garantiria segurança a todos. Quanto mais soberano ele fosse, mais humanos e racionais seriam os homens em sociedade.
Ao Estado nunca interessou afastar a Igreja da vida política, pois o melhor seria submetê-la ao seu poderio e conservar sua função religiosa, que beneficiava o próprio Estado.
Importante setor da burguesia e de uma nobreza progressista passou a contribuir para o fortalecimento da autoridade dos reis. O objetivo era a construção das MONARQUIAS NACIONAIS capaz de investir no desenvolvimento do comercio, na melhoria dos transportes e na segurança das comunicações.
Com a formação moderna, diversos reis passaram a exercer autoridade nos mais variados setores: organizavam os exércitos, que ficavam sobre o seu comando, distribuíam a justiça entre seus súditos, decretavam leis e arrecadavam tributos. Todo essa concentração de poder passou a ser denominado absolutismo monárquico.
Monarquia Tradicional – é o estado onde os reis governam enfrentando inúmeras resistências dos poderes locais, sejam elas dos nobres ou senhores feudais, da burguesia, ou da Igreja. É o Estado que se mantém através do equilíbrio destas forças.
A Monarquia tradicional foi a primeira forma de Estado-Nação dos séculos XII ao XVII. Surgem quando os feudos se uniram e entregaram o poder a um senhor feudal de maior poderio, que se tornará rei – o governo do rei sofre pressões de todos os outros poderes
Monarquia Absoluta, Estado Absolutista ou Absolutismo Monárquico: é o Estado em que o monarca tende destruir todos os poderes locais (dos senhores feudais, Igreja) e governa de forma absoluta sem enfrentar resistências. É o momento em que o rei vai destruir o equilíbrio instituído na Idade Média, destruindo os poderes que restringiam sua atuação, mas ao mesmo tempo mantinham a monarquia tradicional. Neste sentido o Absolutismo é a destruição da Monarquia Tradicional. Isto será conseguido, em grande medida, cooptando todos os expoentes dos poderes locais e oferecendo-lhes cargos na burocracia do Estado. Esta é uma das principais causas da grande burocracia dos Estados atuais.
Exemplos: França , Portugal, Espanha, etc.
Monarquia Constitucional ou Monarquia Parlamentar: Dá-se quando o monarca enfrentando as resistências dos poderes locais, se vê obrigado a pactuar normas que regulamentem o exercício do seu próprio poder. Tais normas que visavam limitar seu poder passam a ser conhecidas como “constituições”. Na “Monarquia Constitucional” o rei governa de acordo com uma constituição. Além da constituição, surgem câmaras ou parlamentos, que são a expressão do poder local no poder central ou junto ao rei, daí o fato de a monarquia, neste caso, ser também conhecida como “Monarquia Parlamentar”. A Inglaterra foi a primeira Monarquia Constitucional (1688)
O Estado Absolutista.
Como primeiro formato de Estado moderno deve-se destacar o absolutismo, surgido em um período de confronto entre nobreza e clero – de um lado – e burguesia – de outro – A princípio a burguesia tentou estabelecer acordos políticos com os monarcas, que aproveitaram a disputa entre as camadas sociais para aumentar seu poder político. Surgiu um novo tipo de Estado, apoiado pela burguesia, que se estendeu por vastos territórios e centralizou as decisões políticas.
O absolutismo teve em Thomas Hobbes (1588-1679) seu representante, cuja teoria procurava as origens do Estado e sua finalidade. Hobbes defendia um Estado soberano com representação máxima de uma sociedade civilizada e racional. A explicação era simples: Em estado natural os homens viveriam em igualdade, segundo seus instintos. O egoísmo, a ambição e a crueldade, próprios de cada um, gerariam uma luta sem fim e tornariam difícil a vida em sociedade, levando-os a destruição. Somente o Estado – poder acima das individualidades – garantiria segurança a todos. Quanto mais soberano ele fosse, mais humanos e racionais seriam os homens em sociedade.
Ao Estado nunca interessou afastar a Igreja da vida política, pois o melhor seria submetê-la ao seu poderio e conservar sua função religiosa, que beneficiava o próprio Estado.
No absolutismo surge a separação entre a pessoa do monarca e o poder político do Estado. Os monarcas defendiam medidas econômicas e políticas em nome do interesse geral e não de acordo com interesses próprios. Começava-se a estabelecer o que era público e o que era privado. O bem público é um bem de todos, mas essa distinção entre o que é publico e o que é privado é produto da época atual, com inicio no Estado Absolutista.
No Absolutismo o poder político centralizou-se no interior do domínio nacional (ou territorial) e os parlamentos que surgiram nesse Estado funcionavam como órgãos consultivos, pois não eram permanentes e não tinham força perante o rei.
Monarquia Tradicional – é o estado onde os reis governam enfrentando inúmeras resistências dos poderes locais, sejam elas dos nobres ou senhores feudais, da burguesia, ou da Igreja. É o Estado que se mantém através do equilíbrio destas forças.
A Monarquia tradicional foi a primeira forma de Estado-Nação dos séculos XII ao XVII. Surgem quando os feudos se uniram e entregaram o poder a um senhor feudal de maior poderio, que se tornará rei – o governo do rei sofre pressões de todos os outros poderes
Monarquia Absoluta, Estado Absolutista ou Absolutismo Monárquico: é o Estado em que o monarca tende destruir todos os poderes locais (dos senhores feudais, Igreja) e governa de forma absoluta sem enfrentar resistências. É o momento em que o rei vai destruir o equilíbrio instituído na Idade Média, destruindo os poderes que restringiam sua atuação, mas ao mesmo tempo mantinham a monarquia tradicional. Neste sentido o Absolutismo é a destruição da Monarquia Tradicional. Isto será conseguido, em grande medida, cooptando todos os expoentes dos poderes locais e oferecendo-lhes cargos na burocracia do Estado. Esta é uma das principais causas da grande burocracia dos Estados atuais.
Exemplos: França , Portugal, Espanha, etc.
Monarquia Constitucional – Dá-se quando o monarca enfrentando as resistências dos poderes locais, se vê obrigado a pactuar normas que regulamentem o exercício do seu próprio poder. Tais normas que visavam limitar seu poder passam a ser conhecidas como “constituições”. Na “Monarquia Constitucional” o rei governa de acordo com uma constituição. Além da constituição, surgem câmaras ou parlamentos, que são a expressão do poder local no poder central ou junto ao rei, daí o fato de a monarquia, neste caso, ser também conhecida como “Monarquia Parlamentar”. A Inglaterra foi a primeira Monarquia Constitucional.
O Estado Liberal.
A população europeia do século VI a 1800 se manteve em torno de 180 milhões de habitantes. De 1801 a 1914 a população aumentou para 460 milhões de habitantes, dando como resultante a sociedade de massas.
A sociedade de massas vai gerar duas revoluções importantes (Revolução Americana, em 1776 e Revolução Francesa, em 1789) que vão propiciar o surgimento do Estado Liberal Democrático.
A burguesia assumiu o governo, instituiu o mercado livre e fez da sociedade civil o seu sinônimo. Era necessária maior nitidez entre o que era público e o que era privado.
Estado Liberal mostra-se como a representação desta separação, como símbolo do que é público e protetor do que é privado.
No século XVIII, a burguesia liberal recusava qualquer intervenção do Estado na economia e começou a difundir a ideia de que as restrições às atitudes estatais seriam benéficas para a economia geral.
O Estado, para os liberais, seria necessário para intervir em assuntos que incomodassem a burguesia, como para reprimir reivindicações da classe operária.
A burguesia reivindicava ampla liberdade na economia, restringindo – mas não tirando – o poder do Estado.
Para implantar o liberalismo econômico, a burguesia baseou-se na teoria formulada por Adam Smith (1723-1790) na obra “A riqueza das nações”, na qual este afirma que existe uma lógica interna, uma razão na produção das mercadorias em que a interferência de um elemento externo seria dispensável.
De acordo com essa teoria, a sociedade se civilizaria ao incorporar valores que defendiam a liberdade de mercado e garantiam igualdade a todos – compradores e vendedores -.
Se as condições para a liberdade e a igualdade entre os indivíduos estavam dadas sociedade civil, o Estado deveria proteger esta situação – teoria da “mão-invisível”. John Locke (1632-1704), na obra “Segundo tratado sobre o governo”, dá ao Estado a imagem de um vigia noturno.
O Estado, segundo os liberais, deve proteger os indivíduos contra situações que possam subverter seus direitos inalienáveis: liberdade, igualdade, vida e propriedade.
O homem, dotado de racionalidade tornara-se o dono do próprio destino e assim as transformações burguesas exigiam a participação da maioria da população.
O Estado Liberal-Democrático.
As sociedades capitalistas, movidas pela burguesia revolucionaria, criaram o Estado Liberal Democrático, que entrou em prática em locais onde a burguesia se chocou com a nobreza e buscou apoio entre os operários e camponeses.
O Estado Liberal Democrático é aquele em que o Estado procura equilibrar os valores de liberdade e igualdade, procurando dar ênfase à primeira. Estes dois valores são antagônicos na medida em que quanto maior a liberdade menor a igualdade. A medida em que se aumenta a liberdade, cada vez mais os homens se mostram diferentes uns dos outros.
Características do Estado Liberal Democrático:
– o povo governa através de seus representantes. Nesse Estado o soberano não é o rei e sim o povo.
– a adoção do sufrágio universal (voto) para escolha de seus representantes.
– o surgimento da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (Código Napoleônico)
– o Estado busca preservar as liberdades, como exemplo, a liberdade de imprensa, organização partidária, sindical, atividade econômica, de mercado.É a proposta do Estado mínimo.
O Estado Liberal Democrático tinha como objetivo ser um Estado com muita liberdade e bastante estabilidade. Ocorre que a extrema liberdade no campo econômico fez com que houvesse a superprodução, a crise financeira e a quebra da bolsa de Nova York em 1929. Após a crise de 1929 (quebra da economia americana) surge uma nova proposta de Estado: o Estado do Bem-Estar Social (Welfare State)
Estado do Bem-Estar Social ou Estado Social
O Estado do Bem-estar também é conhecido por sua denominação em inglês,Welfare State. Os termos servem basicamente para designar o Estado assistencial que garante padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e seguridade social a todos os cidadãos.O “Welfare state” teve a origem no pensamento keynesiano e surgiu como resposta para o que se vivia na Europa, se desenvolveu principalmente por lá. Os termos servem basicamente para designar o Estado assistencial que garante padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e seguridade social a todos os cidadãos.
É o Estado que procura manter as liberdades que o Estado Liberal Democrático garantia. Entretanto, no conflito entre valores liberdade e igualdade, procura sacrificar algumas liberdades em favor da igualdade, como acontece, por exemplo, no campo econômico, dão o nome Estado do Bem-Estar Social.
A diferença básica entre os dois Estados é que o primeiro quer o mínimo de Estado e o máximo de liberdade, e o segundo sacrifica algumas liberdades em nome de um Estado que promova o bem-estar social.
O Estado do Bem-estar, tal como foi definido, surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Seu desenvolvimento está intimamente relacionado ao processo de industrialização e os problemas sociais gerados a partir dele. A Grã-Bretanha foi o país que se destacou na construção do Estado de Bem-estar com a aprovação, em 1942, de uma série de providências nas áreas da saúde e escolarização. Nas décadas seguintes, outros países seguiriam essa direção.
As crises econômicas mundiais presenciadas nas primeiras décadas do século 20 (da qual a crise de 1929 é o caso mais conhecido) provaram que a economia capitalista livre de qualquer controle ou regulamentação estatal gerava profundas desigualdades sociais. Essas desigualdades provocavam tensões e conflitos, capazes de ameaçar a estabilidade política.
Crise
A crise do Estado de Bem-estar é um tema complexo para o qual não há consenso entre os estudiosos. Nos países industrializados ocidentais, os primeiros sinais da crise do Welfare State estão relacionados à crise fiscal provocada pela dificuldade cada vez maior de harmonizar os gastos públicos com o crescimento da economia capitalista. Nessas condições, ocorre a desunião entre “capital e trabalho”. As grandes organizações e empresas capitalistas e as massas trabalhadoras já não se entendem e entram em conflito na tentativa de assegurar seus próprios interesses.
Na Grã-Bretanha, a eleição da primeira-ministra Margareth Thatcher (do Partido Conservador; que governou de 1979 a 1990) representou o marco histórico do desmonte gradual do Estado de Bem-estar inglês a partir da política de privatização das empresas públicas. Outros países adotaram a mesma política.
O modelo de Estado do Bem-estar que emergiu na segunda metade do século 20 na Europa Ocidental e se estendeu para outras regiões e países chegou ao auge na década de 1960. No transcurso dos anos 70, porém, esse modelo de Estado entrou em crise.
Ocorreu também uma vertiginosa ampliação dos serviços assistenciais públicos, abarcando as áreas de renda, habitação e previdência social, entre outras. Paralelamente à prestação de serviços sociais, o Estado do Bem-estar passou a intervir fortemente na área econômica, de modo a regulamentar praticamente todas as atividades produtivas a fim de assegurar a geração de riquezas materiais junto com a diminuição das desigualdades sociais.
Nas últimas décadas do século XIX, o capitalismo da livre concorrência sofria choque no próprio sistema. A competição provocou o fim de empresas mais frágeis e acelerou a desigualdade no acumulo de capitais.
As empresas que dominavam os mercados – nacionais ou internacionais – definiram no capitalismo o monopólio, com a fusão de empresas com bancos, garantindo assim o domínio de grandes mercados. O capitalismo financeiro começa a desenhar a economia global.
A brutal acumulação de riquezas impulsiona os conflitos entre as classes sociais, e o Estado vê-se obrigado a criar órgãos para atender as reivindicações populares, usando o que se chama de política de bem-estar social.
Surgem instituições sociais que compõe o sistema previdenciário, a educação e a assistência medica e se organizam empresas estatais ligadas aos setores estratégico da economia.
Em 1929 o sistema capitalista deparou-se com uma grande crise que o abalou profundamente. O Estado de bem-estar social surgiu como solução para superar essa crise.
Com base nele John Maynard Keynes (1883-1946) elaborou princípios que defendiam a intervenção do Estado na economia para garantir o pleno emprego, incentivando contratações nas empresas privadas e públicas.
Era necessária a ajuda social aos desempregados, ampliando, pouco a pouco, a estrutura administrativa, cujo custo foi pago com a cobrança de taxas e impostos da burguesia.
O Estado do bem-estar social foi muito criticado por uma parcela da burguesia que afirmava que este não valia o quanto custava, pois os negócios ficavam comprometidos com tantos impostos e bloqueava-se o desenvolvimento econômico.
Mesmo com críticas nos países desenvolvidos, o Estado não mais se afastou da economia, os gastos públicos permaneceram altos e as mudanças para a redução dos custos atingiram apenas as instituições que atendiam os trabalhadores – educação e saúde públicas fracas -; previdência social e seguro-desemprego com poucos recursos.
Integrar a economia do seu país à globalização é uma tarefa que exige do Estado algumas medidas entre elas a privatização das estatais, a desregulamentação do mercado, a livre atuação aos bancos, a flexibilização dos direitos trabalhistas e o atrelamento da moeda ao dólar para facilitar as transações internacionais.
As reformas neoliberais avançaram sobre os direitos dos trabalhadores, pois estes estão em desvantagem para resistir, dada a ameaça do desemprego, e desorganizados politicamente.
sistema. A competição provocou o fim de empresas mais frágeis e acelerou a desigualdade no acumulo de capitais.
As empresas que dominavam os mercados – nacionais ou internacionais – definiram no capitalismo o monopólio, com a fusão de empresas com bancos, garantindo assim o domínio de grandes mercados. O capitalismo financeiro começa a desenhar a economia global.
A brutal acumulação de riquezas impulsiona os conflitos entre as classes sociais, e o Estado vê-se obrigado a criar órgãos para atender as reivindicações populares, usando o que se chama de política de bem-estar social.
Surgem instituições sociais que compõe o sistema previdenciário, a educação e a assistência medica e se organizam empresas estatais ligadas aos setores estratégico da economia.
Em 1929 o sistema capitalista deparou-se com uma grande crise que o abalou profundamente. O Estado de bem-estar social surgiu como solução para superar essa crise.
Com base nele John Maynard Keynes (1883-1946) elaborou princípios que defendiam a intervenção do Estado na economia para garantir o pleno emprego, incentivando contratações nas empresas privadas e públicas.
Era necessária a ajuda social aos desempregados, ampliando, pouco a pouco, a estrutura administrativa, cujo custo foi pago com a cobrança de taxas e impostos da burguesia.
As reformas neoliberais avançaram sobre os direitos dos trabalhadores, pois estes estão em desvantagem para resistir, dada a ameaça do desemprego, e desorganizados politicamente.
Características do Estado do Bem-Estar Social
– presença de um alto déficit público ou dívida interna
– alta carga tributária, grande volume de impostos, que se pretende sejam aplicados no social (aposentadoria, licença gestante, ect).
– diminuição da liberdade econômica, com o aumento progressivo da presença do Estado na economia (planos econômicos).
Renato Cancian, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é cientista social, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais. É autor do livro “Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e Atuação Política – 1972-1985”.
E o Brasil?
O Brasil nunca chegou a estruturar um Estado de Bem-estar semelhante aos dos países de Primeiro Mundo. Não obstante, o grau de intervenção estatal na economia nacional teve início na Era Vargas (1930-1945) e chegou ao auge durante o período da ditadura militar (1964-1985). Paradoxalmente, os mais beneficiados com os gastos públicos em infra-estrutura (nas áreas de telecomunicações, energia elétrica, auto-estradas etc) e construção de grandes empresas públicas foram, justamente, os empresários brasileiros e estrangeiros.
Na década de 1970, porém, setores mais influentes da classe empresarial começaram a dirigir críticas ao intervencionismo estatal. Na época, a palavra mais usada pelos empresários paulistas em sua campanha contra o intervencionismo estatal na economia era “desestatização”. Quando ocorreu a transição para ademocracia, os partidos políticos de esquerda e os movimentos populares acreditavam que tinha chegado o momento do Estado brasileiro saldar a imensa dívida social diante das profundas desigualdades sociais e pobreza extrema reinantes no país. Não obstante, todos estes anseios foram frustrados.
Os governos democráticos que se sucederam a partir de 1985 adotaram inúmeras políticas, chamadas de neoliberais, cujos desdobramentos mais evidentes foram as privatizações de inúmeras empresas estatais. Atualmente, o debate em torno da reforma da previdência social é o centro da política de desmonte (ou reestruturação, como preferem os políticos de direita) do Estado do Bem-estar brasileiro.
Estados Totalitários
Estado Totalitário ou Total é o estado que absorve a sociedade civil (tudo aquilo que a sociedade criou de organizado). É aquele que não permite nenhuma manifestação de caráter público que não seja autorizada pelo Estado. Tudo pelo estado, nada fora dele. É, portanto um Estado que não permite as liberdades públicas, só permite aquelas que não contrariem seus próprios interesses.
Estado Fascista na Itália (1922-25 a 1945)
Características:
– movimento nacionalista, anti-comunista e anti-liberal
– amplo movimento de massas ou movimento popular.
– não é permitida oposição, restrições as liberdades públicas.
– sistema de partido único (Partido Nacional Fascista – PNF)
– expansionismo militar
– corporativismo econômico
– abolido direito de greve e qualquer expressão da luta de classes
Estado Nacional Socialista ou Nazista na Alemanha (1933 a 1945)
Características:
– movimento nacionalista (pan-germânico), anti-comunista e anti-liberal.
– amplo movimento de massas ou movimento popular.
– sistema de partido único (Partido Nacional Socialista do Trabalhador Alemão – NSDAP)
– expansionismo militar
– Supressão total das liberdades públicas – GESTAPO (Polícia Secreta do Estado)
– Intensivo uso da propaganda. Criação do Ministério da Propaganda.
– Idolatria do Führer (líder), no caso Hitler. O líder jamais poderia ser questionado, ou seja, ele é infalível e será sempre o último a decidir nas questões mais importantes.
– Anti-semitismo – os nacional-socialista eram anti-semitas porque entendiam que os judeus formavam uma nação dentro da nação alemã e isto não era permitido, daí a perseguição aos judeus.
– doutrina de superioridade da raça ariana ou racismo
Estado Comunista ou Socialista da URSS
Características:
– sistema de partido único (Partido Comunista da União Soviética)
– supressão total das liberdades públicas, inclusive religiosa, já que o Estado Comunista de auto-intitulava ateu, do direito de ir e vir, com a adoção do passaporte interno.
– uso intensivo da propaganda.
– tomada do poder pela via revolucionária e adoção da Teoria Marxista.
– na economia, supressão total da propriedade privada, dos meios de produção e distribuição, o que significava a estatização da economia.
Demais Estados Comunistas ou Socialistas:
– os que fizeram revolução: China (Mão Tse-Tung –1949), Cuba (Fidel Castro – 1960), Iugoslávia (Marechal Tito 1945/48), Albânia (1948), Angola (1975), Moçambique (1975), Vietnã (década de 60).
- os que não fizeram revolução, tornaram-se comunistas por razões militares a partir de 1945: Leste Europeu (Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Alemanha Oriental, Romênia, Bulgária); no Oriente, a Coréia do Norte.
Referência Bibliográfica
Teoria Geral do Estado
Sahid Maluf
Ed. Saraiva
Elementos da Teoria Geral do Estado
Dalmo de Abreu Dallari
Editora Saraiva
O fim do século XVIII e o início do século XIX foram marcados pelo avanço do capitalismo, e passou a se exigir atitudes mais agressivas por parte da classe empresarial, num ambiente econômico que estimulava o fator da concorrência. Valores como individualismo, liberdade, competição e tolerância contribuíam para um modelo mais democrático – em relação ao absolutismo – de se fazer política. No entanto, essa visão liberal sofreu várias críticas, desde o fim do século XVIII.
Enquanto para Locke o direito do indivíduo à propriedade era natural e inegociável, para Rousseau representava a própria decadência moral da sociedade – assim, se fazia uma crítica denunciando que o liberalismo beneficiava uma determinada classe de cidadãos, a burguesia, e não a sua totalidade. Em O Contrato Social (1762), Rousseau afirma que o homem é livre apenas com o Estado, que para existir obriga que todo indivíduo renuncie à sua liberdade e seus interesses particulares. A vontade geral deveria prevalecer às vontades individuais: esta ideia comprova que, se o liberalismo foi individualista num primeiro momento, logo depois surgiram correntes que postulavam a superioridade do Estado em relação ao indivíduo.
Esta dicotomia entre individualismo e estatismo dentro do liberalismo permaneceu no século XIX, quando um grande número de diferentes, e às vezes contrárias, correntes políticas se consideravam liberais. As funções que o Estado deveria desempenhar são aspecto central nessa discussão. Basta olharmos para o século XX e a oscilação entre modelos liberais e intervencionistas. Por exemplo: um liberalismo desenfreado no inicio dos anos 1900 levou a uma concorrência econômica brutal entre países europeus, ajudando a desencadear uma Guerra Mundial. Depois vieram Estados ditatoriais, como o nazismo, o comunismo e o fascismo. O Estado do Bem Estar Social, implantado a partir da 2ª Guerra Mundial, pregava a intervenção em certos setores, como educação, emprego e saúde.
Segundo Norberto Bobbio, podemos compreender “liberalismo” como uma determinada concepção de Estado, na qual este tem poderes e funções limitados. Assim, será o avesso daquele Estado no qual o poder absolutista imperou em boa parte da Idade Média e da Idade Moderna. Da mesma forma, ele se contrapõe ao que hoje consideramos ser o Estado social, ou de bem-estar social que se viu na URSS no século XX. Além disso, Bobbio também aponta que um Estado liberal não é necessariamente democrático, mas, ao contrário, realiza-se historicamente em sociedades nas quais prevalece a desigualdade à participação no governo, sendo ela bastante restrita em termos gerais, limitada a classes possuidoras (BOBBIO, 1995). Obviamente, o Estado liberal seria fruto de um pensamento liberal, pensamento este discutido por vários intelectuais nos últimos cinco séculos, mas que teria suas bases nas teses de John Locke (1632-1704), considerado o pai do liberalismo principalmente por conta de suas ideias em “Dois tratados do governo civil”, obra publicada no final do século XVII. No primeiro tratado, ele faz uma crítica ao tipo de Estado caracterizado pelo poder absolutista do rei, pautado na escolha divina. No segundo tratado, escreve sobre a origem, extensão e objetivo do governo civil.
Há um trinômio muito importante em sua obra constituído pelos conceitos de Estado natural, Contrato social e Estado civil. Para Locke, o homem é anterior à sociedade e a liberdade e a igualdade fazem parte de seu Estado de natureza. No entanto, elas não são vistas de forma negativa como nas ideias de Thomas Hobbes (o qual afirma que os sentimentos de liberdade e igualdade conduzem a guerra constante), mas sim dizem respeito a uma situação de relativa paz, concórdia e harmonia. Nas palavras de Francisco Welfort (2006), nesse estado pacífico os homens já eram dotados de razão e desfrutavam da propriedade que, numa primeira acepção genérica utilizada por Locke, designava simultaneamente a vida, a liberdade e os bens como direitos naturais do ser humano. No estado natural do homem ele possuiria direitos naturais que não dependeriam de sua vontade (um estado de perfeita liberdade e igualdade). Locke afirma que a propriedade é uma instituição anterior à sociedade civil (criada junto com o Estado) e por isso seria um direito natural ao indivíduo, que o Estado não poderia retirar. “O Homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho” (WELFFORT, 2006, pg. 85).
Contudo, apesar de John Locke acreditar no lado positivo da liberdade e da igualdade no estado de natureza, tal situação não estava isenta de inconvenientes como a violação da propriedade. Para contornar esses inconvenientes era preciso fazer um contrato social, que unisse os homens a fim de passarem do estado de natureza para a sociedade civil. Seria necessário instituir entre os homens um contrato social ou um pacto de consentimento, no qual o Estado é constituído como “dono” do poder político para assim preservar e consolidar ainda mais os direitos individuais de cada homem, direitos estes que eles já possuíam desde o estado de natureza. Assim, “é em nome dos direitos naturais do homem que o contrato social entre os indivíduos que cria a sociedade é realizado, e o governo deve, portanto, comprometer-se com a preservação destes direitos” (MARCONDES, 2008, p. 204). Segundo Welffort, no Estado civil os direitos naturais inalienáveis do ser humano à vida, à liberdade e aos bens estão mais bem protegidos sob o amparo da lei, do árbitro e da força comum de um corpo político unitário. Este seria o sentido e a necessidade da formação do Estado como garantidor de direitos.
Não é por outro motivo que John Locke é considerado o pai do individualismo liberal. Sua obra terá grande influência na conformação do pensamento liberal ao longo do século XVIII. A doutrina dos direitos naturais está na base das Declarações dos Direitos dos Estados Unidos (1776) e na Revolução Francesa (1789). O Estado liberal é o Estado limitado, sendo a função dele a conservação dos direitos naturais do homem.
Assim, se a defesa dos direitos dos homens é o mote do pensamento liberal, a valorização do individualismo é uma consequência óbvia e direta no Estado Liberal ou, nas palavras de Bobbio, “sem individualismo não há liberalismo” (BOBBIO, 1995, pg. 16). Certamente, o desenvolvimento desses valores e dessa visão de Estado foi fundamental para o desenvolvimento do capitalismo enquanto modo de produção, formando as bases jurídicas da sociedade capitalista. Dessa forma, as questões levantadas são: até que ponto a liberdade e igualdade entre os homens conseguem andar juntas no sistema econômico capitalista? Embora o Estado liberal garanta a defesa da liberdade, ele poderia garantir a igualdade (em seu sentido mais amplo) entre os homens? Fica o convite à reflexão.